quarta-feira, 21 de maio de 2014

A Criança e os Vícios
Autor: Jon Talber

"Sem antes conhecer a si mesmo, torna-se impossível compreender os outros..."
criança
Há uma predisposição da sociedade, com o apoio dos meios de comunicação, de transformar os mais bizarros, absurdos e patológicos comportamentos humanos em coisa natural...
Nossos critérios de julgamento para coisas e pessoas são sempre tendenciosos. Ou seja, julgamos de conformidade com nossas expectativas. E todos os critérios usados para decretar esses veredictos se baseiam nos traços do nosso próprio comportamento, onde estão incluídas nossas crenças, preferências, temperamento e tudo mais.

E no final de tudo isso o que buscamos é tão somente algum tipo de satisfação ou agrado, e que embora não seja de natureza permanente, pelo menos possamos repetir depois.

É a satisfação por uma coisa conhecida, coisa já experimentada antes, que faça parte de nossas lembranças. Provamos uma vez e se nos agrada, ficará arquivada, protocolada em nosso cérebro, como fonte de prazer viável e necessário. Não podemos desejar repetir uma coisa que nunca provamos antes, que ainda não classificamos como desagradável ou agradável.

E existe a primeira vez para tudo. Mas, apenas a partir da segunda vez temos lastro para eleger conscientemente, de forma calculada, aquela coisa como fonte de prazer. E agora, de forma pensada, objetiva, decretar como algo que nos desagrada ou agrada. E assim nascem nossas preferências, sejam elas de qualquer natureza.

E em tudo isso existe também a influência de caracteres do nosso temperamento, que são as predisposições inatas que existem em cada indivíduo. Tais predisposições ajudam no seu processo cognitivo, uma vez que ele se sentirá melhor identificado ou naturalmente atraído por algumas situações ou coisas, enquanto irá rejeitar ou resistir a outras.

Mas para que uma predisposição inata se transforme em caracteres do nosso comportamento ela irá precisar dos estímulos da mesologia, o que acaba por se tornar nosso principal fator condicionante, o verdadeiro feitor e maestro de nossas posturas e personalidades, com todas suas particularidades, sejam elas negativas ou positivas.

Inicialmente, não existe uma relação entre indivíduos, ou objetos, sem que não exista entre eles um vínculo de prazer. Observe nosso tato, como prefere a superfície macia à crespa. Trata-se de uma coisa involuntária, um ato mecânico, instintivo. Basta observar uma criança bem pequena. Embora conscientemente ela não saiba por que, irá preferir o objeto suave ao invés do áspero.

O motivo é simples, o áspero significa coisa agressiva, perigosa, do ponto de vista da autopreservação, enquanto que o outro, representa segurança, conforto. A mesma regra se aplica ao nosso modo de olhar, quando traçamos perfis de forma visual.

É complexa a fisiologia mental do homem, mas, ao contrário do que imaginamos, também a coisa bizarra, exótica, extraordinária, nos atrai. Trata-se de uma forma natural de confrontarmos, de avaliarmos, tudo aquilo que classificamos como belo. Nosso cérebro é analógico, e isso quer dizer que funciona de modo comparativo. Sem o bizarro não existe o belo, assim como sem o trágico, sem o caótico, não existe a harmonia.

É de suma importância tomar ciência desse fato. Na mente infantil ainda não existem lembranças suficientes para que um juízo perfeito ou coerente, uma avaliação consciente de qualquer fato possa ser feita com o discernimento que nós adultos já possuímos. Assim, belo e bizarro, para elas, são quase a mesma coisa. O crivo das restrições para aquilo que classificamos como do mal ou do bem, ainda não está consolidado naquele pequeno cérebro de poucas memórias e carente de vivências elucidativas.

Como aprendem pela imitação, quando vêem alguém contente, supostamente feliz a partir da experimentação de alguma coisa, especialmente se tais pessoas são de sua confiança, ou do círculo de confiança dos seus entes mais próximos, sentir-se-ão naturalmente predispostas a praticarem a mesma coisa. Errado e certo é uma regra que não se aplica a aquela mente fresca, ansiosa por novos experimentos, um lugar onde as restrições são naturalmente indeferidas. Aprender a partir dos erros é a regra natural da sobrevivência, do instinto de preservação que trazem do berço.

Cientes disso, de que aquilo que julgamos errado ou certo se consolida em nós a partir das vivências pessoais, nos faculta a orientá-las desde cedo sobre o que é ou não necessário à sua experiência de vida. Elas não precisam cometer os mesmos erros já antes cometidos por nós para só então descobrirem que aquilo não é coisa válida.

Existe coisa mais prazerosa para uma criança, quando descobre que não precisa falar sempre a verdade para sua mãe? Imagine que, com isso, ela é capaz esconder suas faltas e ainda receber compensações. Assim, ela pode muito bem dizer que fez a tarefa de casa, ou escovou os dentes, ou que foi dormir cedo, por descobrir que sua mãe não tem meios de saber se ela está ou não dizendo a verdade.

A descoberta de que as palavras servem para ela esconder seus deslizes ou faltas, abre diante dela um imenso mundo de atraentes possibilidades, que poderão lhes proporcionar vantagens e satisfações.

Ela agora pode, de fato, criar diante de sua mãe, uma falsa imagem a respeito de si mesma, ou de qualquer outro, pois para isso, bastam as palavras. Mas isso ela só poderá ter aprendido observando outro, vendo como se faz, jamais sozinha.

E se antes ela temia seus pais com medo dos castigos prometidos, agora, desde que não seja pega em flagrante, estará a salvo. Mas a partir desse ponto precisará cultivar uma imagem, aquela que seus pais aprovam, e outra, aquela que eles não precisam saber que existe. E tudo isso ela aprende em casa, com seus próprios pais, irmãos e amigos, ou diante dos seus grandes instrutores modernos, a Televisão e os amigos virtuais na Internet.

E supondo que seus pais, ou irmãos, ou tios, ou amigos respeitados pelos pais, tenham um vício qualquer, como será que aquela criança reagirá diante dessa situação? Uma mente infantil é uma incógnita, e ao mesmo tempo uma coisa extremamente sensível, fortemente sujeita às induções, sugestões, especialmente se tais influências partem de pessoas que ela julga respeitáveis, ou nas quais confia. Podem ser ainda pessoas que foram aprovadas por pessoas que ela admira, como, por exemplo, seus pais, irmãos, ou melhores amigos, e essa regra também se aplica para os chamados ídolos ou ícones públicos.

Supondo ainda que seus pais não possuam vícios e em casa dão o bom exemplo. Mas suponha que os melhores amigos dos seus pais, que elas também, por empatia, acabem por respeitar, estes também poderão lhes servir de guias para construção do seu modelo de ética, maus ou bons costumes e preferências. Elas pensam: “Se meus pais o aprovam, uma vez que abertamente nunca o contestaram, ou recriminaram, então, a atitude deles é coisa certa...”.

Por isso, bom exemplo é importante, mas não é suficiente. É preciso que além do bom exemplo, os pais e educadores se posicionem claramente que são contrários a qualquer tipo de vício, do mesmo modo como fazem questão de ressaltar, diante de todos, suas preferências e gostos pessoais, quando o assunto é a autopromoção e inflação do próprio Ego.

A Criança Estressada
Autor: Jon Talber

"Sem antes conhecer a si mesmo, torna-se impossível compreender os outros..."
criança
Se nada de útil temos para doar às crianças, sensato é Nada doar...
Criança não nasce estressada, ou agitada, ou malcriada, ela aprende tudo isso, com seus tutores, sejam eles pais biológicos ou secundários, que são seus primeiros e mais importantes educadores, seus primeiros instrutores.

Nos primeiros anos de vida, quando as memórias das vivências que darão lastro a sua futura personalidade ainda estão tentando fixar residência em sua cabeça, seus sentidos estão mais atentos que nunca. É assim que toma conhecimento de manias, fraquezas ou virtudes daqueles que fazem parte do seu universo caseiro, ou periférico.

E como se identificam com os diversos personagens a partir desse convívio, através do processo de imitação, poderão incorporar diversos desses traços, isso inclui o que não presta e o que presta. E é exatamente nesse estágio existencial que, na maioria das vezes, delegamos sua guarda e orientação primária a terceiros, muitos sem nenhuma qualificação. O que será que irão aprender?

E a depender de seus temperamentos, tais instruções poderão deformar, comprometer, de modo negativo, toda estrutura daquela personalidade que ainda não tem uma forma definida. E o temperamento que existe apenas como potenciais adormecidos no fundo do inconsciente, a partir dos estímulos externos poderão aflorar, na forma de hábitos conscientes, vícios, manias e psicopatologias, que poderiam ser evitadas com o bom esclarecimento.

Uma criança agitada por predisposição natural pode ter esse seu estado temperamental espontâneo potencializado pelo meio, desde que as condições se façam presentes. Não existindo as condições, ela tenderá a abandonar esse traço, que é inconsciente, e substituir por outro. Lembre-se, na criança não existe apenas uma ou outra idiossincrasia, mas todas, umas mais visíveis, outras mais discretas.

O educador que conhece o processo pode anular as negativas e lapidar apenas as positivas, qualificando-as, favorecendo que a criança se adapte de forma equilibrada com as novas condutas adquiridas.

E quem são estes docentes desqualificados? Pode ser os próprios pais, assediados pelo excesso de trabalho e indiferentes aos filhos; ou a televisão, ou os amigos virtuais da internet, ou ainda os cuidadores profissionais, e assim por diante. E cada uma dessas entidades físicas ou virtuais irá contribuir com algum traço psicológico que o pequeno, involuntariamente, vai assimilar para compor sua personalidade.

São as manias, fraquezas, traços patológicos, conflitos, e talvez, raramente, virtudes. E tudo isso servirá de base, lastro, para a construção do seu repertorio cognitivo, e o seu modo peculiar de ver e viver o mundo.

Seus desejos, a raiz da maioria das frustrações humanas, também serão plantados durante essa etapa. Ao se identificar com uma personalidade, que pode ser uma babá, um ídolo da moda, um educador, um personagem dos quadrinhos ou televisão, a criança também se identifica com os traços comportamentais, enfim, tudo que tenha relação com aquele ícone. Isso inclui suas opiniões, seus gostos pessoais, suas crenças, seus ideais e assim por diante.

Se como adultos já experientes ainda julgamos os indivíduos pelas aparências, qual a reação que devemos esperar de crianças inocentes? A lógica é simples, elas se identificam com alguma coisa, que pode ser objeto ou pessoa. E o fazem porque estão em busca de mais segurança psicológica, a sensação de que estão protegidas.

Uma criança nasce livre. Livre de crenças e de obrigações, tarefas simples ou complexas, não importa o que seja. Não há vontade em suas pequenas mentes, isso vai ocorrer mais tarde, virá com seu futuro condicionamento. Elas aprenderão a falar conosco, e também a desejar, preferir, e a sentir angústia e frustração quando não conseguirem obter aquilo que delegamos como coisas importantes para elas.

O valor das coisas, assim como suas reações diante de fracassos e sucessos, isso também vamos lhes ensinar.

O mundo não ensina a ninguém. O mundo não tem língua, nem é capaz de falar, muito menos de cuidar de uma criança. Isso é nosso papel, dos adultos, sejam pais, educadores ou qualquer outro. Como adultos, ensinamos a estas crianças como funciona nosso mundo, que logo será o mundo delas, que no futuro o será dos seus descendentes, num movimento cíclico infinito, aparentemente incapaz de ser interrompido ou modificado.

Uma criança não nasce com raiva de alguma coisa, ou de alguém. Antipatia e empatia nada significam para ela. Se como animal ela instintivamente possui em si a semente da violência, o modo como irá empregar e direcionar essa violência em seus relacionamentos, isso fica por conta dos instrutores do mundo, ou seja, nós. Violência faz parte do instinto animal, serve como alicerce para a autopreservação. É um componente do nosso medo primário, que é prudência.

Diante de um abismo, sabemos das conseqüências de uma queda, isso não é medo, é prudência, é inteligência. Ao cairmos desse abismo, segurar em suas bordas com todas as nossas forças, isso é colocar para fora todo nosso instinto animal de sobrevivência, e numa situação dessa natureza é tudo que importa.

Ali não há pensamento, apenas ação, e mesmo que nossos dedos sangrem, ainda assim a dor será ignorada. Isso é violência, é o despertar da força irracional de sobrevivência, ou como diziam os antigos, o despertar do instinto primário.

A raiva é coisa dirigida, consciente, sabemos exatamente porque a estamos sentindo. É uma deformação do estado de violência primária, uma má aplicação causada pela falta de compreensão que temos desse estado natural. Ficamos insatisfeitos com qualquer coisa, e naturalmente, logo desejamos nos livrar da causa ou causador. Assim nos foi ensinado, assim, de forma incondicional, também instruiremos aos nossos filhos.

Ensinar para uma criança que o ato de perder faz parte do seu aprendizado diante da vida, isso só é possível de ser feito se já aceitamos, a partir da auto-experimentação, esse fato.

Como podemos ganhar alguma coisa se ainda não sabemos o que é perder? Imagine um mundo onde todos ganham. Como saberão que são vencedores se não existissem os perdedores, aqueles que precisam ser derrotados, pelo menos uma vez, para então aprenderem o que significa uma vitória?

Todo stress infantil está centrado nessa verdade: Elas não aprenderam ainda que a única via de acesso ao esclarecimento, e ao aprendizado definitivo, são os erros cometidos, pessoalmente, ou pelos outros. Quando o desejo inflexível de se tornar impecável, perfeito, sobre-humana, é equivocadamente ensinado para elas, por reflexo, também criamos a criança ansiosa, temerosa, estressada.

Podemos ensinar isso às nossas crianças, o fato de que nada se perde; que o erro é na verdade um acerto em andamento. Como podemos ensinar o que é acerto se não tivermos um erro como referência? Decerto não podemos. Isso precisa ser compreendido, e explicado, de uma forma clara, de modo que elas sejam capazes de entender textualmente e compreender intelectualmente.

Podemos mostrar para elas, através de exemplos simples, como todo nosso conhecimento de vida foi construído a partir de tentativas e mais tentativas de acerto, e de como ainda continuamos a tentar. Assim não mais temerão os erros, e ficarão atentas para minimizar ao máximo suas ocorrências. Usarão os mesmos como guias para seus acertos, sem frustrações, sem ressentimentos, sem raiva, ou ansiedades desnecessárias.
As Frustrações Infantis
Autor: Jon Talber e Ester Cartago

"Para compreender a vida não se requer uma certa quantidade de energia, mas de toda disponível..."
criança
Professor consciente, aluno presente...
Educador não deveria ser aquele que simplesmente se especializa na arte de instruir, que acaba por ensinar qualquer coisa. Pode ser um mau ou um bom hábito, a assimilação de uma mania, gesto involuntário ou voluntário, tudo isso é conhecimento. Um instrutor normalmente faz isso, é ele, um multiplicador do conhecimento. Pode ser uma simples experiência pessoal, ou uma tradição milenar, e ambas são instruções, irão compor a cognição.

Um livro pode se tornar um eficaz educador, assim como um mito, uma crença, um tabu, uma propaganda que pretenda criar novos hábitos de consumo, ou novos estilos de comportamento, e a tudo isso, podemos chamar de instrutores. Se aquilo o que se prestam a ensinar é coisa inútil ou útil, isso é outra história, o que não anula seu papel de preceptor, de professor. A maioria dos chamados “professores” do mundo podem ser enquadradas nessa categoria.

Quando observamos o viver da humanidade, suas formas de convívio social, angústias coletivas e individuais, as causas de suas ansiedades, seus medos, suas vaidades e ganâncias, coisas que são partes da sua extensa cadeia de problemas existenciais, não podemos negar que tudo isso também faz parte do seu conhecimento acumulado. E os novos moradores do planeta, que somos nós, acabamos por herdar dos nossos ancestrais, sem direito a escolha, toda essa colcha de retalhos mal costurados, num ciclo sempre repetitivo, desde as primeiras gerações.

E como este conhecimento formata, estrutura, dá origem ao conteúdo da mente dos novos indivíduos, cria suas personalidades, que por sua vez formam, constituem a massa dessa humanidade, podemos afirmar que a mentalidade do mundo é o nosso principal agente cognitivo. Ela se manifesta através de nós, seu pensamento é nosso pensamento, suas necessidades são também as nossas, assim como seus objetivos existenciais, e tudo o mais.

E o mundo repassa então seu conhecimento para seus filhos. E se esse mundo não caminha em nenhuma direção coerente, também esse será nosso destino. E através de nós, seu pensamento se transforma em ação, e através de nós seu pensamento poderá permanecer inalterado, ou talvez, ser mudado.

E eis que surgem nossos filhos, os adultos do futuro, cujas mentes são como livros com folhas em branco, folhas nas quais podemos escrever qualquer coisa, até nossas frustrações e medos mais inconscientes. Também, nossos desejos e vaidades, nossos desafetos e afetos, enfim, muitos traços de nossa personalidade. Eles não podem evitar que isso se cumpra, mas, como educadores, ou pais, se estivermos cientes desse fato, podemos alterar a qualidade dessa escrita.

A sensação de não se ter um desejo realizado, um resultado idealizado e planejado diferente daquele esperado, disso resulta o sentimento que conhecemos como frustração. Claro que crianças, pelo menos as pequenas, ainda não sabem o que isso significa, não conhecem as causas capazes de despertar tal sensação.

Embora o sentimento de frustração seja coisa inata do temperamento involuntário de cada um e necessária ao instinto de sobrevivência, em nós, seres racionais e civilizados, isso acaba por se manifestar com uma proposta bem diferente da original. Sentimento de frustração, o original, é coisa do instinto. Serve para nos alertar dos perigos, das coisas que podem colocar em risco nossa integridade física. Isso nos faz chorar quando estamos com fome, ou em apuros, no berço, longe de nossa mãe, chamando-a para perto de nós, para nos socorrer, e assim por diante.

Embora a frustração seja um estado natural, inato, um atributo necessário à nossa sobrevivência animal, há uma outra variedade, e esta foi criada artificialmente por nós. Ela surge, quase sempre, quando as muitas expectativas criadas pelo nosso pensamento, acabam por encontrar obstáculos difíceis de superar à sua frente. Isso pode ter como motivação problemas sérios, ou caprichos dos mais simples e estúpidos.

Esta “frustração” virtual ele, o adulto, cria e repassa para seus filhos e educandos. Esta frustração, ele primeiramente apreende, assimila, dos seus ancestrais, depois dá de presente aos seus descendentes. E assim tem sido ao longo das eras. Se isso vai continuar indefinidamente, apenas nós, como multiplicadores de tradições, manias, costumes e personalidades, somos capazes de dizer.

Perceber que a coisa ocorre desse modo, isso é o despertar da verdadeira inteligência. Só podemos ensinar se nos tornarmos inteligentes, ou então seremos apenas “instrutores” ou multiplicadores das deformações, perturbações, da pedagogia patológica que já existe em nosso mundo. Ensinar a ser inteligente não é a mesma coisa que ensinar a repetir aquilo que já praticamos. Inteligência começa com questionamentos, com o princípio da descrença, onde tudo deve ser investigado, examinado, avaliado, com liberdade, sem medo de repressões, sem exceções.

Só uma mente que admite não saber é capaz de aprender. Só uma mente que não sabe, que duvida até de si mesmo, pode se tornar inteligente. E a inteligência começa com o princípio da auto-organização, que conduz à autodisciplina e a autocognição, e tudo isso requer liberdade de pensamento.

E essa liberdade é fundamental. Sem ela não há chance alguma de progresso psicológico. As tradições, seus tabus e dogmas, as muitas doutrinas que são nossas condicionantes, estas, não permitirão mudanças, iniciativas que possam colocar em risco seu despotismo. Precisamos estar livres para pensar, questionar, duvidar. Dessa liberdade nascerá o senso de organização, que é a verdadeira disciplina.

Criamos o mundo, somos o mundo com suas deformações, e a menos que mudemos o rumo do nosso padrão de pensamento, jamais harmonia e bom senso farão parte dos nossos dias. E não adianta nos enganarmos, pois a lógica é bastante simples, uma mente deformada só é capaz de criar ainda mais deformação, nunca o inverso.
A Criança e a Autoestima
Autor: Jon Talber

"Sem antes conhecer a si mesmo, torna-se impossível compreender os outros..."
criança
O especialista em educação que não se tornou especialista na ciência da vida, é um tolo que se julga sábio...
Um processo autônomo, como o gesto de engatinhar, ficar em pé e eventualmente andar, ou aprender a pegar, segurar alguma coisa, nada disso requer inteligência, uma vez que são processos involuntários, naturais, do mesmo modo que o são, o olhar, o sentir cheiro, o escutar sem direito a escolha.

Já sabemos pegar nas coisas de berço, e com o tempo apenas vamos aperfeiçoar a técnica. E depois aprendemos a dar nomes aos objetos com os quais interagimos. E para nada disso é requerida a inteligência, pois trata-se de um mero gesto de repetição, imitação, assim como o faz um papagaio, que é capaz de reproduzir sons que se assemelham aos vocábulos humanos, mesmo sem saber o que significam.

Criatividade, quando a aplicamos no mundo psicológico, não significa o estar apto a repetir ou imitar, a decorar pantomimas para depois praticá-las como se fossem habilidades. Podemos ter ideias, mas isso na verdade reflete apenas uma diferente forma de se ver algo já existente. Nesse caso, é uma ideia anterior que ora segue modificada, com aparência de nova. E assim também ocorre com nosso comportamento, que se parece coisa nova, quando na verdade apenas o veículo somático, que é nosso corpo, é novo, mas não os hábitos incorporados.

A insatisfação e satisfação, opostos de um mesmo estado, é a causa e o efeito de toda ação humana. É o que determina o que devemos ou não desejar, procurar obter, evitar, o criar dos nossos objetivos de vida. Também, a partir destes dois pontos equidistantes de uma mesma coisa, está centrada a incessante busca existencial do indivíduo, e é também a base para a criação de todas as personalidades humanas.

E disso também resulta a maioria dos estados emocionais do homem. Tristezas e alegrias, melancolia e euforia, medo e coragem, falta de confiança e confiança em si mesmo. Também os motivos que nos causam cada um destes estados estão associados ao desejo de sempre se obter satisfação. Isso quer dizer, o fato de ser aceito, bem sucedido, bonito, capaz, idolatrado, desejado, ter poder, e até ser o preferido das divindades.
Compreender porque desejamos sempre mais do que exigem nossas necessidades, liberta a mente, o ego acumulador, da ânsia de fama e poder. Assim, ainda na infância, as expressões das frustrações banais próprias dos adultos, educadores involuntários e voluntários das crianças, não devem ser demonstradas explicitamente. Uma frustração adulta por qualquer motivo, que se torna coisa corriqueira, quando exortada diante de uma criança, sinaliza para a mesma, que aquele comportamento é natural, que deve ser imitado.

E embora intelectualmente aquela criança ainda seja incapaz de compreender o que está acontecendo, quais são as causas concretas, no entanto, os efeitos emocionais, tais como a ansiedade ilustrada pela agitação, a inquietação, a intolerância e a irritabilidade, estes são de compreensão e assimilação imediata.

Confiança em si mesmo é quando conseguimos enfrentar nossos próprios medos e limitações. É o sentir-se capaz de superar obstáculos que se apresentam como grandes problemas. Isso se consegue quando se têm automotivação, que é um sentimento de certeza interior. A Certeza de que os problemas podem ser superados nunca pode existir no medroso, onde lhe falta a confiança em si mesmo. Essa qualidade não é inata, mas produto de aprendizado, e é repassado pelas pessoas que estão à nossa volta, e na maioria das vezes, tudo isso ocorre de forma involuntária.

Já se sabe que uma criança começa a compilar informações que farão parte do seu repertório cognitivo e consequente personalidade, alguns meses antes do seu nascimento. E ainda no ventre da mãe, ela escuta, recebe doses de adrenalina e outros hormônios diante das variações comocionais da sua hospedeira, cria dependências, intolerâncias e tolerâncias somáticas por drogas, sejam elas medicamentosas ou não.

Nesse estágio pré-natal, ela também desenvolve antipatias ou simpatias por pessoas, por timbres de voz e processos sonoros, e tudo isso são assimilações, e mesmo que involuntárias, irão dar forma a traços importantes de sua personalidade, aquele recipiente gigante onde também está contido seu temperamento.

E depois de nascida, uma criança que apenas aprendeu a ouvir lamentações, expressões de mágoas, ressentimentos e autovitimizações, jamais terá forças para enfrentar seus dilemas pessoais. Terá sua motivação e energia pessoal desviada apenas para expressar os estados de apatia, frustrações, que são os sintomas naturais, daqueles que fazem do seu viver uma central de lamentações, que insistem em cultivar mágoas e desafetos.

Sentir-se-á ela incapaz de realizar qualquer coisa, exaurida, insegura por não se achar apta para nada, sequer para pensar com clareza. E, quando adulta, acabará por repetir as lamúrias que lhe serviram de lastro no passado. Desse modo, a autopiedade tornar-se-á seu mestre psicológico.

E sob o domínio dessa força assediadora, não terá forças para reagir diante de problemas, e irá procurar para sempre, depender daqueles que resolvam tais questões para si. Criamos então mais um acomodado, conformado, preguiçoso pela incapacidade de vencer a si mesmo, amargo por procurar sempre nos outros os motivos para suas frustrações e insucessos pessoais.

Do mesmo modo, quando se exige de uma criança a perfeição, acabamos por criar um individuo isolado do mundo, demasiado crítico, medroso de ser repreendido, que mais se preocupará com a opinião alheia, do que com sua própria felicidade. Terá medo até dos próprios pensamentos, embora, na maioria dos casos, jamais descubra os motivos pelos quais age dessa forma.

Mostrar desde cedo, com gentileza, sem exigências de impecabilidade, que os problemas são questões que podem ser resolvidas, desde que enfrentados com a devida coragem, com desejo de investigação, determinação e conhecimento, ajudará a criança a preparar o seu emocional para tais situações.

De que adianta mostramos para elas apenas o resultado emocional de um problema, através de nossas expressões de raiva, de angústia? Isso apenas servirá para que se tornem ansiosas sem uma causa aparente, diante de qualquer eventualidade, mesmo de uma surpresa ou alegria, ou da simples expectativa de uma espera, por qualquer motivo.

Do mesmo modo, é fundamental fazê-las compreender que os erros, longe de serem demonstrações de fraqueza ou imperfeições, servem como guias para os acertos, sendo, portanto, a mais elevada prática cognitiva.

Assimilado tudo isso, se tornarão naturalmente mais tolerantes, mais flexíveis em seus julgamentos e planejamentos. E então seus temperamentos inatos poderão aflorar de forma saudável, e se antes poderiam ser fatores deformadores da personalidade, agora poderão se tornar aliados na potencialização dos seus traços positivos.

E, finalmente, devemos nos lembrar de repreender uma falha com orientação e esclarecimento, e um acerto com incentivo e dicas de qualificação. Lembrando que no processo de orientação, para que ela apreenda, tome gosto em escutar com atenção o que está sendo dito, transmitido, a paciência é um item fundamental e insubstituível. Do mesmo modo, um acerto não se incentiva com prendas ou elogios fáceis, mais com encorajamento, com apreciação verdadeira, com exemplos, com demonstrações claras e inequívocas, de que aquilo tem algum valor.

Assimilado tudo isso, se tornarão naturalmente mais tolerantes, mais flexíveis em seus julgamentos e planejamentos. E então seus temperamentos inatos poderão aflorar de forma saudável, e se antes poderiam ser fatores deformadores da personalidade, agora poderão se tornar aliados na potencialização dos seus traços positivos.

E, finalmente, devemos nos lembrar de repreender uma falha com orientação e esclarecimento, e um acerto com incentivo e dicas de qualificação. Lembrando que no processo de orientação, para que ela apreenda, tome gosto em escutar com atenção o que está sendo dito, transmitido, a paciência é um item fundamental e insubstituível. Do mesmo modo, um acerto não se incentiva com prendas ou elogios fáceis, mais com encorajamento, com apreciação verdadeira, com exemplos, com demonstrações claras e inequívocas, de que aquilo tem algum valor.

As Formas do Medo
Autor: Jon Talber e Ester Cartago

"Sem antes conhecer a si mesmo, torna-se impossível compreender os outros..."
Monstro
O medo psicológico é sempre acumulativo, pois se trata de um ensinamento, um processo cognitivo, como outro qualquer...
Nosso cérebro foi programado pela natureza para aprender qualquer coisa, assim aprender é simples e fácil, difícil mesmo é largar o aprendizado que já não nos serve, a exemplo dos vícios, das manias, das paranóias.

Claro que criança não nasce com medo, especialmente com as causas, os indutores que suscitam esse medo. Uma forma de suscitar medo, o medo do escuro, por exemplo, possui em seu lastro, toda uma história criada pelos adultos, com quesitos que dizem respeito aos adultos, situações tiradas de suas crenças pessoais, e estes são os mitos, as tradições de todos os tempos, que conceituaram a escuridão como um atributo de coisa ruim.

É como a história da mãe que, não desejando que o filho a desobedeça, se vale da falta de visibilidade que existe na escuridão da noite, e o induz a crer que dali, de dentro das trevas, sairá um Bicho Papão para pegá-lo, caso não se comporte. A partir desse ponto, a simples menção do escuro, já condiciona aquela criança a ter medo, não do escuro, mas das coisas que podem surgir de dentro dele, para lhe fazer mal.

Podemos imaginar uma criança, sua mente, como uma folha de papel em branco, onde qualquer roteiro pode ser escrito. Quando se analisa um comportamento infantil, que tende a acompanhá-la até a fase adulta, a despeito do seu temperamento natural, que a faz sentir-se atraída por algumas coisas e resistir a outras, o que conta mesmo são os estados emocionais que irá extrair do meio onde vive e tomar como guia para a construção de sua personalidade.

E todo esse acervo de estados psicossomáticos já faz parte do mundo, e tudo do que irão precisar para incorporar cada um deles como traço de comportamento, é a identificação com aqueles que melhor se adaptem aos seus temperamentos.

Mas, em muitos casos, a influência da mesologia é tão forte que as próprias idiossincrasias do jovem são anuladas, destruídas, pelo extraordinário poder dos costumes e tradições. Um fanático, qualquer que seja, or exemplo, não tem o fanatismo como atributo do temperamento, uma vez que na natureza não existe tal coisa. Um comportamento desse tipo é uma cria exclusiva de uma mesologia patológica. 
Tais práticas, comportamentos, manias, vícios, e outros caracteres, já foram incorporados ao cotidiano dos adultos, aperfeiçoados ao longo de incontáveis gerações, e o que resta a criança agora é absorver tudo isso, sem direito algum à escolha. Podemos escolher por onde caminhar, jamais a aprender a engatinhar, ou enxergar, ou sentir cheiro.

Um dos maiores equívocos dos adultos é julgar a criança a partir de si mesmo. Ele sequer é capaz de compreender que o estado emocional de uma criança ainda está em fase de desenvolvimento, ainda carece de muitas experiências e memórias para, talvez, se equiparar à sua. Mas, a criança já sabe imitar, e isso ela não aprende, é um atributo de berço, faz parte do seu instinto ou temperamento primário. Por isso mesmo poderá tornar-se um mestre da imitação, trabalhar à perfeição essa qualidade que lhe é inata. Desse modo, será capaz de copiar dos adultos a maioria das suas manias, sejam elas inúteis ou úteis.

Quando se tem medo, a primeira reação é tentar evitar a causa desse medo. E a fuga da causa do medo se torna mais importante que o medo em si. Mas, do mesmo modo que a estrutura de um prédio se apóia em seus alicerces, a fuga apenas fortalece esse medo, e esse mesmo processo acaba por se tornar a raiz, a base, da sua existência.

Podemos evitar as causas do medo, mas ele permanecerá em nós amparado pelo meio de fuga. E a fuga se torna uma proteção parcial, ilusória, enquanto o medo em si, continuará a existir, intocado, como se fosse uma coisa sagrada que devesse ser preservada, até do nosso olhar.

Quando criamos a comparação como medida para classificar coisas e pessoas, criamos também algumas das bases do medo. Então torna-se um objetivo natural o desejo de ser maior e melhor, mais belo, mais inteligente, mais qualquer coisa, e também a ideia de que nosso semelhante é um obstáculo a ser superado, vencido, destruído. E numa disputa, inevitável é que não exista o medo. Medo de não conseguir, de ser superado, de ser inferiorizado, da perda de qualquer coisa.

No momento que recompensamos nossos filhos com elogios fáceis, ou presentes, pelo simples fato de cumprirem suas obrigações ou deveres fundamentais, estamos também incutindo em suas mentes a barganha, a troca de favores, como o único caminho para se conseguir alguma coisa. E a criança não mais verá os outros como seres humanos iguais a si mesmo, mas como simples objetos que podem ser comprados para servir aos seus desejos ou caprichos. Jamais será capaz de respeitar alguém, nem aqueles com os quais possui vínculos, ou algum tipo de dependência.

"O temperamento de uma criança deve ser considerado e avaliado como fator importante no desenvolvimento de suas qualidades comportamentais..."
O Papa Figo
O que os olhos não podem ver, a mente se encarrega de criar, eis a essência do medo psicológico...
Uma criança aprende a ter medo. Evitar uma conhecida coisa, algo que sabidamente seja capaz de nos causar danos físicos é prudência, é uma estratégia de sobrevivência, é o medo natural, saudável, o único que existe. Criar mentalmente situações que presentemente não existam como ameaças concretas diante de nós, isso é o medo psicológico, trata-se de uma deformação na lógica do pensamento, é o medo virtual, o medo patológico.

As bases desse medo psicológico, isso nos é ensinado, quando nossos pais nos ameaçam para cumprirmos nossas tarefas infantis, ou para nos comportarmos em casa, não fazermos barulho, ou escovarmos os dentes, ou ainda quando somos comparados, ou quando nos exigem mais do que aquilo que temos para dar.

Dessa base inicial, todas as causas de nossos medos são criadas. Da mesma forma que aprendemos a gostar de ganhar presentes, ou elogios, também passamos a temer os opostos dessas coisas. Então nos tornamos mais temerosos, mais inseguros em nossas ações, e nossa criatividade é substituída pelo desejo de imitar. Imitar é mais simples, basta seguir as ordens e direções já traçadas, basta que nunca nos desviemos das normas estabelecidas. Assim, a conformação com qualquer tipo de situação, seja ela má ou boa, é tudo o que mais desejaremos.

Por isso, o temor às críticas, e a constante sensação de que somos observados por um temível censor dos nossos movimentos, capaz de ver até o nosso pensamento, nos impedirá se sermos espontâneos, uma vez que isso pode não ser permitido por "aqueles" que estão à nossa espreita, apenas esperando o momento de nos castigar.

O conflito interior é inevitável, e lutaremos a vida inteira para nos livrar desse observador, desse cobrador insaciável e implacável, que insiste em exigir de nós conformismo, que façamos a sua vontade, nunca a nossa. Nesse cenário, onde o repetir as velhas fórmulas e padrões é mais seguro, não há como existir criatividade.

Por fim, uma criança pode crescer livre de todos os medos, exceto os saudáveis, que já foram citados antes. Os pais podem cuidar disso, desde que eles próprios sejam capazes de lidar com os seus. Quando estamos dispostos a examinar a estrutura do medo, e não das coisas que nos despertam esse medo, vamos descobrir que se trata apenas de um artifício da mente, uma anomalia em seu funcionamento. Podemos chamar a isso de falta de compreensão, o que poderia ser evitado através de explicações, esclarecimentos qualificados, desmistificações claras, de acordo com o nível de compreensão de cada criança.

Assim, explicar aos nossos filhos através do esclarecimento, desde cedo, como nós os pais, ou adultos, criamos a maioria das causas dos seus medos, com a única intenção de controlá-los, é de vital importância, e um gesto de coragem e honestidade. Afinal de contas, existem muitas outras formas de conseguirmos disciplinar e colocar ordem em nossos filhos, sem o uso de tais artimanhas, mais perniciosas que ditosas.